sexta-feira, maio 14, 2010


A quem desagrada o areamilitar ?

Ainda que não seja tema do site areamilitar.net, foi-nos chamada a atenção para um curioso artigo[1] publicado no final de Janeiro de 2010, sob o pseudónimo de Timothy Bancroft-Hinchey, alegadamente editor da publicação russa «Pravda» (pravda.ru) e publicado em português. A situação é praticamente anedótica, mas mesmo assim, e por nos ter sido pedido um comentário, oferece-nos dizer o seguinte:

Nas declarações do alegado editor, que por alguma razão se terá dignado ler este humilde site, foi produzido tal chorrilho de disparates e cretinices sobre um artigo publicado no areamilitar.net (sobre as teorias da conspiração do ditador venezuelano Hugo Chavez) que nos demos ao trabalho de o ler.

Esperávamos no areamilitar.net, alguma explicação técnica, que nos permitisse concluir algo sobre a alegada bomba capaz de produzir terramotos, a que o dito pasquim fez referência (foi considerado como fonte pelo ditador venezuelano).
Mas para nosso espanto, o alegado editor daquela «folha» russa, não ficou indignado com a referência feita nas páginas deste site às patéticas alegações do presidente venezuelano Hugo Chavez Frias e à ridícula referência a uma bomba ou a um raio fabricador de terramotos no Haiti.

Aparentemente, a ira e raiva da publicação que já foi o orgulho da imprensa da ditadura soviética, e que hoje se dedica ao sexo, às teorias da conspiração e aos fenómenos extra-terrestres nada teve que ver com questões militares, ou de geoestratégia, mas com o facto de no areamilitar.net, alguém ter feito num artigo de opinião uma descrição sem papas na língua do que o PRAVDA.ru de facto aparenta ser: Uma demonstração de quão baixo pode chegar a natureza humana, quando munida de capacidade para escrever, ainda que desprovida da capacidade para pensar.

Mas para cúmulo do ridículo, e como que a reforçar o espanto de qualquer pessoa normal perante tão extemporânea e catatónica afirmação deste tal Sr. Hinchey (que aparentemente nem sequer existe) está o facto de nas críticas dirigidas a este site dizer uma coisa, e no parágrafo seguinte dizer o seu contrário.

Assim, o patético editorialista Timothy Bancroft-Hinchey acusa este site de insinuar «que a PRAVDA.Ru não é a mesma PRAVDA que antigamente e que só lhe restou o nome».
Curiosamente, no mesmo artigo, a mesma pessoa, afirma textualmente que «Fechada em Agosto de 1991, a PRAVDA impressa passou a ser vendida (…) e entretanto 90% dos jornalistas fundaram e registaram uma nova PRAVDA impressa».
Ou seja. É o mesmo, mas foi fechado, comprado, renegociado dividido e re-juntado.
É caso para dizer que as afirmações deste «cromo» raiam o patético.

Ainda que os jornalistas fossem os mesmos, ainda que o jornal fosse publicado no mesmo lugar, com as mesmas máquinas, seria preciso ser muito cego para não entender que o PRAVDA que publicava os discursos de ditadores assassinos como Stalin ou Brejnev nada tem a ver com um jornal online, que se dedica a sexo, mentiras e vídeo, que é presentemente a única forma de garantir a sobrevivência de uma publicação do tipo na Rússia.

E esta é a verdade, absolutamente confirmada por qualquer um que tenha acompanhado a patética senda do PRAVDA ao se transformar num jornal de escândalos, que tentou copiar o SUN de Londres, substituindo as prostitutas inglesas da página dois por prostitutas russas online.

Termina o senhor Hinchey, com a exigência de um pedido de desculpas.
E é aquela exigência que é mais aviltante e mais repugnante.

Temos a honra neste site de publicar dados, artigos, opiniões e variadíssimas informações que tiveram e continuam a ter ocasionalmente e conforme a disponibilidade, a colaboração desinteressada de militares que nos ajudam a corrigir erros e gralhas e a melhorar a informação disponível. Em alguns casos, tratou-se de militares que viram os seus camaradas morrerem nos seus braços nas florestas de África.

O areamilitar.net considera insultuoso, que alguém que colabora com um jornal online, que se especializou em notícias como a de uma velhinha de 80 anos que foi violada por um extra-terrestre verde e que depois de engravidar deu à luz uma cabra de duas cabeças, tenha o descaramento e a miserável e indecente pouca vergonha de pedir desculpas a quem quer que seja que escreva neste site.

Preocupe-se o Sr. Hinchey com a corrupção no governo russo, que é das maiores em todo o mundo. Preocupe-se com os crimes dos soviéticos durante a II guerra e durante a guerra fria. Preocupe-se com as tenebrosas e cruéis mentiras que o antigo PRAVDA publicava e que levaram à morte de milhões e talvez um dia tenha alguma credibilidade.

Mas enquanto se dedicar aos extra-terrestres, às preferências sexuais dos actores russos, às teorias da conspiração e aos atributos sexuais das passistas das escolas de Samba do Rio de Janeiro, ENTÃO REDUZA-SE À SUA INSIGNIFICÂNCIA.

Na verdade, só há uma resposta moderada, adequada e suficientemente sofisticada para este tipo de gentinha, e é a resposta que o sempre acutilante John Stewart dá no seu Daily Show, à igualmente inenarrável e repugnante FOX-NEWS.

Como este site é visitado por militares, que normalmente não têm os mesmos pruridos linguísticos, permito-me voltar a vestir por uns segundos a farda e dizer:

Fuck you, Mr. Timothy Bancroft-Hinchey








NOTAS:
O Jornal PRAVDA, foi o órgão de comunicação do comité central do partido comunista da União Soviética, e após o colapso da URSS, afogada no lodo, no sangue e na lama das suas próprias contradições, teve o mesmo destino do criminoso regime comunista que representava: O caixote do lixo da história.

O nome da publicação no entanto, tinha algum valor. Afinal, em russo a palavra PRAVDA - que continua a ser a mais prostituída das palavras da imprensa russa - quer dizer verdade, e num país controlado pela lei do terror, a palavra VERDADE pode não querer dizer nada, mas tem valor.

Algum valor lhe foi dado por investidores, que de imediato utilizaram o jornal para tentar ganhar dinheiro.
No entanto o projecto falhou. À medida que os corruptos membros do Partido Comunista tentavam aplicar na Rússia o que eles pensavam ser uma democracia, a economia russa, já de si arruinada pela corrupção e pela ineficiência típicas das ditaduras comunistas afundou-se ainda mais e levou consigo muitas iniciativas privadas.

Para juntar a tudo isto, a chegada ao poder de Vladimir Putin piorou tudo. Ligado à facção mais violenta do KGB, a facção que se dedicara ao crime organizado[1] Putin iniciará um reinado de terror, em aliança com as Máfias da Chechénia com as quais estabeleceu relações especiais, especialmente com o clã Mafioso de Kadirov.

Presentemente a chamada «imprensa séria» desapareceu na Rússia. A transformação do PRAVDA de um jornal com dezenas de milhões de tiragem diária, num jornal online dedicado ao sexo e aos extra-terrestres é uma demonstração disso, e também uma demonstração da decadência de uma Rússia que ainda não entendeu, que o tempo dos impérios está a chegar ao fim.



[1] – O artigo encontra-se neste link: Mentiras e verdade
[2] – Enquanto que os operacionais do KGB se dedicaram ao crime, os militantes do Partido Comunista dedicaram-se aos negócios. Isto gerou tensões entre os dois grupos.
A KGB acusou os antigos dirigentes do PCUS de terem vendido o país aos chamados oligarcas.
A primeira tentativa de controlo ocorreu em 1993, em que com o apoio de unidades do exército as máfias tentaram tomar o poder pela força. Finalmente o poder foi controlado por dentro quando os autores do golpe conseguiram colocar Vladimir Putin no poder.
Uma terceira facção, que não teve acesso ao dinheiro dos negócios e não tinha capacidade militarizada, controla hoje o que resta do Partido Comunista russo.

Mensagem automática publicada por : Paulo Mendonça

sábado, abril 17, 2010


As Waffen SS de Hugo Chavez

Se mais provas fossem necessárias sobre a deriva ditatorial neo-fascista do regime imposto pelo ditador venezuelano Hugo Chavez, a recente demonstração de força organizada pelo regime Chavista na capital venezuelana, tiraria toda a dúvida que um incauto observador ainda tivesse.

No dia 13 de Abril de 2010, em comemoração do aniversário de sua vitória durante uma desastrada tentativa para tira-lo do poder, Hugo Chavez organizou uma demonstração de força para-militar, ao mais puro estilo nazista, copiado das grandes manifestações dos «camisa-marrom» do partido nacional-socialista alemão dos anos 30.

A tropa miliciana chavista foi criada em 2006 por intervenção do ditador, com o objetivo de organizar uma guarda pretoriana para defender Chavez de possíveis golpes militares. Agora, Chavez criou uma nova milícia camponesa. No papel, ela se destina a proteger os campos que foram tomados para a reforma agrária venezuelana, num processo que já levou a produção de comida no país a mínimos históricos.

É improvável, que as milícias chavistas tenham realmente como objetivo a proteção de alguma conquista revolucionaria. Como no Irã, este tipo de organismo destina-se a garantir a existência de uma tropa de choque absolutamente fiel ao regime, e adequada para operações onde não seja viável o emprego da Policia.

[img2]As ditaduras «encapotadas» como é o caso da Venezuela, ainda não mostram de forma aberta sua forma de atuar e tentam manter um ambiente formal de liberdades, que não corresponde à realidade no terreno.
Esse tipo de milícia, não obedece a tribunais nem a chefes militares ou regionais, mas unicamente ao líder, Chavez.

O modelo chavista não é diretamente copiado da força nazista, mas tem como referência a Guarda Revolucionaria Iraniana, criada pelo regime dos Aiatolas no Irã, para proteger-se de um golpe dos militares.

Essa força de choque responde diretamente perante o seu «Grande Líder» e tem como funções, fazer chantagem sobre os oposicionistas, fazer contra-manifestações sempre que a população se levanta contra o líder, e permite criar um ambiente de coação e intimidação, sempre que a população contrária quiser manifestar-se.

Esse procedimento está minuciosamente descrito nos manuais de «agitação e propaganda» dos Partidos Comunistas desde os anos 50. Todos os partidos dessa tendência utilizaram esse tipo de métodos em países sem uma estrutura democrática organizada, ou onde ela estava seriamente debilitada.

As milícias são essencialmente organizações destinadas ao controlo da oposição, em altura de eleições.
Como tropa irregular de choque, as milícias podem criar atritos e situações de violência e terror generalizado, justificando assim o envio de forças pesadas contra a população e justificando eventuais massacres.
Chavez já avisou que não terá qualquer problema em matar todos os que se opõem ao regime.
Ainda não é possível analisar como será a organização futura desses organismos e sua coordenação com o exército regular.

Por enquanto, as milícias chavistas são apenas um grupo relativamente mal organizado de «jagunços» armados com rifles russos, mas se a influência do regime islâmico iraniano continuar, então não é de excluir que a Venezuela passe para uma fase mais próxima da realidade iraniana.

O regime de Teerã, copiou de forma quase exata a organização militar nazista, criando um segundo exército de apoiantes fanáticos, que pelo seu fanatismo foram sendo escolhidos para formar uma elite militar.
Como aconteceu na Alemanha nazista, também no Irã, a Guarda da Revolução passou de um movimento politico armado, para uma força de elite, que recebia os armamentos mais sofisticados e mais poderosos da Alemanha,

É isso que acontece no Irã de Ahmadinejad, onde os Guardas da Revolução rivalizam com o exército quando se trata de mostrar suas últimas armas.
O armamento que a nova guarda revolucionária de Chavez receber no futuro, vai ser o melhor termômetro para medir a deriva de Chavez para a instituição de uma ditadura cruel na fronteira norte do Brasil.

Mensagem automática publicada por : Luis Carlos Gomes

quarta-feira, março 17, 2010


Para onde vai o Brasil ?

No regime democrático, o Estado e as instituições servem à nação e não a governos e seus programas político-partidários. No regime totalitário, o partido único ou hegemônico é um novo ator, que predomina na relação nação-Estado. Este último e suas instituições, entre elas as forças armadas (FA), servem ao partido e não à nação, sobre a qual prevalecem.

A história mostra que o direito é alterado ao sabor do poder dominante em sistemas desequilibrados. O regime democrático depende do equilíbrio entre os poderes, ficando sob ameaça quando, como ocorre hoje no Brasil, o Executivo hipertrofiado e seu partido estabelecem estratégia para a tomada total do poder como está claro no Programa Nacional de Direitos Humanos – PNDH.

É perigoso um Legislativo fisiológico e moralmente desgastado, que se submete às pressões do Executivo, e um STF com sete de onze ministros indicados pelo presidente da República, hoje um indispensável e oportuno aliado da esquerda radical em seus propósitos. Porém, o PT sabe que sua candidata, mesmo vencendo a eleição presidencial, não é uma liderança nacional capaz de conduzir com êxito o projeto totalitário do partido. Assim, ao contrário do mandato atual, o PT será protagonista nesse eventual governo, daí o empenho em aprovar algumas propostas do PNDH, sem o que será praticamente impossível concretizar a tomada total do poder.

Caso o Legislativo e o Judiciário se dobrem à pressão do Executivo e alterem normas legais e constitucionais que asseguram o regime democrático a fim de endossar certas propostas do PNDH, o PT vai controlar, cercear a liberdade e conduzir todos os setores da nação ao encontro de seu projeto de poder. Para isso, utilizará as comissões e conselhos previstos no programa que, aparelhados pelo partido, serão a versão nacional dos comissários do povo e sovietes das jurássicas repúblicas socialistas.

Um dos objetivos imediatos da esquerda radical é a neutralização das FA, sendo a Comissão da Verdade tentativa de deixá-las inertes e na defensiva. A alteração do texto do PNDH não impede o propósito de apresentar versão facciosa dos eventos históricos, objeto da comissão. Ela está sendo preparada por um grupo de trabalho totalmente parcial, portanto, seu nome pode ser qualquer um menos Comissão da Verdade. As FA são comprometidas unicamente com a nação, o Estado e a Constituição como devem ser nos regimes democráticos. A esquerda radical pretende enfraquecer esse compromisso e redirecioná-lo para o partido; o que será impossível, pois as FA teriam de negar o próprio berço e a histórica aliança com o povo brasileiro e suas aspirações, entre elas a de liberdade.

A visão de futuro da esquerda radical é a de um Estado forte, de economia planificada centralizadamente e com grandes empresas estatais. Baseia-se em uma aliança tácita que apoia, mas controla o empresariado, cujo lucro e gestão dependerão dos financiamentos do governo e dos fundos de pensão nas mãos do Estado. O modelo se assemelha ao capitalismo de estado chinês, adaptado ao perfil nacional, como se deduz das Diretrizes Programáticas do PT – 2011/2014. É projeto desenvolvimentista para transformar o Brasil em uma potência política, econômica e militar, mas seu custo é a perda da liberdade, uma cara aspiração nacional. Hoje, essa esquerda alia-se com defensores dos direitos humanos, ambientalistas e altas lideranças políticas oportunistas, mas, quando estiver fortemente assentada no poder vai se descartar desses incômodos companheiros de viagem, a exemplo dos conhecidos expurgos das revoluções totalitárias.

Visão prospectiva não é adivinhação, mas avaliação de tendências e, em estratégia, o tempo se conta por décadas, não a cada ano. A esquerda radical vê a possibilidade de permanecer no poder até 2022, tempo bastante para concretizar sua estratégia de tomada total do poder já em andamento.

Na Carta Magna, está clara a opção da nação pelo regime democrático, como se vê no Preâmbulo, Capítulo I e artigo 5º. O Brasil não quer ser um país igual à China do massacre da Praça Celestial e da internet censurada; à Venezuela do desabastecimento, incompetência e ditadura bolivariana; à Cuba dos presídios, "paredões" e fuzilamentos; e ao Irã das eleições fraudadas, prisões e assassinatos de opositores. Neste e nos próximos anos, a vontade da nação e a estabilidade das instituições, entre elas as FA, passarão por teste decisivo para o futuro de nossa democracia.
Luis Eduardo Rocha Paiva, é General do exército brasileiro, na reserva.

Mensagem automática publicada por : Luis E.R.Paiva

segunda-feira, fevereiro 22, 2010


A falta de meios novamente à vista

De forma trágica, com mortos, feridos e destruição, as chuvas torrenciais na ilha da Madeira, que devastaram a cidade do Funchal, bem assim como vários municípios limítrofes, vieram por a nu, as debilidades das forças armadas portuguesas e do pais no seu todo, no que respeita à capacidade para apoiar as populações civis em caso de desastre natural.

Passadas 48 horas da catástrofe, e quando ainda há alarmes sobre a possibilidade de deslizes de terras provocados pelas chuvas, as quais tornaram instáveis os solos, a capacidade portuguesa de enviar auxilio para uma parte do território nacional, está limitada a dois aviões C-130 e a uma fragata da classe Vasco da Gama.
O envio daquele meio da marinha aliás, demonstra por um lado a incapacidade e a falta de meios e por outro a tentativa por parte dos governantes de mostrar serviço.

Mas independentemente da abnegação e da dedicação dos militares a bordo daquele meio da marinha, uma fragata da classe «Vasco da Gama» especializada na luta contra submarinos e equipada para abater aviões, serve de relativamente pouco para prestar auxilio a populações civis. Os 200 militares que transporta, seriam eventualmente mais eficazes se fossem enviados para a ilha de avião, onde seguramente chegariam mais cedo.

Há já décadas que a marinha portuguesa tem planos para a construção de um navio de apoio logístico [1] que permita, em conjugação com os restantes meios das forças armadas não só realizar operações militares, mas também actuar em situações de emergência, como é o caso da situação que presentemente ser vive na Madeira.

• Para que serve o Navio de Apoio logístico ?
Este tipo de navio, normalmente designado pela sigla NAVPOL é basicamente uma plataforma flutuante, a bordo da qual podem ser transportados militares e viaturas, de forma a permitir a sua utilização de forma rápida e tão eficaz quanto o permitir a situação no terreno.

Independente das suas valências em termos militares, é um navio que possui no seu interior, lanchas de desembarque, e que pode por exemplo transportar desde tractores, empilhadores e bulldozers até ambulâncias. Ao contrário de outros navios, que precisam de um porto adequado para o desembarque dos meios, o NAVPOL, pode em caso de emergência e necessidade - e caso o porto seja destruído ou não esteja operacional – colocar os meios que transporta utilizando a sua capacidade própria de funcionar como doca flutuante.

Numa situação de emergência como a que ocorreu na Madeira, várias pontes foram destruídas, e embora a engenharia militar disponha de meios para apoiar as populações em alguns casos, não possui a necessária capacidade autónoma de transporte para enviar para a Madeira esses equipamentos.
O país ficará dependente da capacidade para a mendicidade que tem mostrado ser uma das características mais vincadas dos dirigentes do actual governo português.

Naturalmente que o país receberá, por pena, apoio exterior. Esse apoio é naturalmente bem vindo, pois se não temos meios próprios, então que haja outros.
O problema, evidentemente, é o atraso que o facto de não se possuírem meios próprios provoca.

Porque não temos um NAVPOL ?

É absolutamente natural que se coloque a questão, ainda mais quando se sabe que navios deste tipo são até um pouco mais baratos que os submarinos adquiridos pela marinha. Um Navio de Apoio Logístico poderá ter um custo entre os 200 e os 350 milhões de Euros [2] (considerando as necessidades portuguesas), enquanto que os submarinos têm um custo que ronda os 500 milhões.

O anterior ministro da defesa Nuno Serveriano Teixeira afirmou, pouco tempo após tomar posse da pasta, em Novembro de 2006 que considerava que o NAVPOL era mais urgente que os submarinos, mas que estes não substituíam aquele.

A decisão de adquirir os submarinos foi portanto do governo em que foi ministro da defesa Paulo Portas, que defendeu a necessidade de aquisição daqueles meios.
O ministro Portas, foi na altura colocado perante a possibilidade de o país perder as capacidades que tinha no campo da arma submarina.
Temia-se que a marinha, reduzida de quatro a dois submarinos, perdesse a sua capacidade submarina para sempre, num país cuja única real riqueza é a sua posição estratégica e aquilo que hoje se denomina por Zona Económica Exclusiva.

Há um outro factor que levou a que os submarinos se tornassem mais importantes que o NAVPOL: A arma submarina tem tradição e tem uma estrutura montada, que é composta por meios humanos, pessoas que inevitavelmente contam e têm capacidade para explicar os seus pontos de vista.

Já a necessidade de um NAVPOL não tinha o mesmo tipo de adeptos e depende de um número de meios e estruturas que têm que ser criadas de raiz e que levam à capacidade de projecção de forças combinadas. Aparentemente esta visão, que faz sentido, não possuiu força suficiente para se superiorizar ao «Lobby» dos submarinos.

A ideia básica por detrás da aquisição dos submarinos antes de um navio logístico, se quisermos ser politicamente incorrectos foi a seguinte:
Ao adquirir os submarinos, salva-se a arma submarina, que o país precisa mas que a opinião pública não entende, e o NAVPOL acabará sendo construído, porque os cidadãos vão acabar por perceber a sua necessidade mais tarde ou mais cedo.
O raciocínio pode não parecer o mais decente, mas não deixa de ter a sua razão de ser.

Ainda assim, o país continua com o problema de não ter um navio de apoio logístico, cuja aquisição é ainda mais dificultada pela presente situação financeira.
A Madeira é um aviso, mas outros avisos deveriam ter sido já ouvidos.

As ilhas dos Açores, foram várias vezes afectadas por problemas decorrentes da sua origem vulcânica. Em caso de catástrofe, se aeroporto e porto de mar, numa dessas ilhas tornarem impossível o acesso, não haverá forma de prestar auxilio às vítimas em tempo útil.


[1] – A actual situação vem também demonstrar a necessidade de o país dispor de mais que um destes meios, porque os navios precisam manutenção e quando estão em reparações periódicas não podem ser utilizados.
[2] – Os números podem variar com muita facilidade e dependem do tamanho e configuração interna do navio, bem assim como do armamento que possam transportar, dado se tratar de navios militares.

Mensagem automática publicada por : Paulo Mendonça

sábado, fevereiro 13, 2010


Não nos podem prender a todos

Há quarenta e cinco anos, a 13 de Fevereiro de 1965, durante a manhã, nas proximidades da vila portuguesa de Olivença, caia assassinado o General Humberto Delgado.

As circunstâncias do assassinato não foram completamente esclarecidas. Se o regime português da altura tinha interesse em acabar com um possível opositor de peso - que era aliás conhecido como General Coca-Cola pelas suas tendências liberais e pró americanas - também não é de excluir que Delgado se tivesse tornado demasiado incómodo para os movimentos que se opunham ao regime [1].

Candidato à presidência nas eleições de 1958, recebeu oficialmente 23.6% dos votos, embora em termos de movimentação popular tenha conseguido efectuar grandes comícios e manifestações nos grandes centros urbanos.
Foram detectadas várias fraudes eleitorais que permitiram deduzir a possibilidade de Humberto Delgado ter de facto ganho as eleições.

Humberto Delgado, ficou conhecido como «General Sem Medo». Saído das fileiras do próprio regime e apoiante claro de Salazar desde a primeira hora, Delgado tinha sido enviado para o estrangeiro, onde se apercebeu da necessidade de uma renovação do regime.

Acreditando que tinha consigo a maioria da população (e provavelmente teria), o general enfrentou corajosamente um regime, que naquela altura parecia ter entrado numa fase de declínio, declínio esse que apenas a guerra em África e a invasão de Goa impediram, por criarem uma onda de simpatia que ajudou Salazar até ao fim.

Não nos podem prender a todos

Se é verdade que a mais famosa frase de Delgado foi «Obviamente demiti-lo-ía»[2] também não deixa de ser verdade que entre as várias afirmações que proferiu, passou à História aquela em que numa acção de propaganda, terá acalmado os seus simpatizantes, lembrando que a PIDE - a polícia do regime - não podia prender todos.


No dia de ontem, Sexta-feira, dia 12 de Fevereiro de 2010, um jornal português foi publicado, mesmo após ter sido colocado perante uma medida judicial de providência cautelar que determinava a proibição da sua publicação.

O acto, reveste-se de um grande significado, a apenas algumas horas da comemoração de mais um aniversário do assassinato de um português que morreu pela liberdade do seu pais, e constitui uma AVILTANTE e REPUGNANTE tentativa de censura, baseada num juízo miserável e indigno, de um qualquer juiz anónimo, actor na telenovela MISERÁVEL em que se transformou a vida política portuguesa.

Como no tempo do antigo regime, em que faziam parte do sistema judicial miseráveis juízes fantoches, que prostituíam a justiça, nessa aberração criminosa que foram os TRIBUNAIS PLENÁRIOS, também hoje, parece que há actores nesta atroz peça tragicomédia que chegaram ao mais baixo degrau da cave da latrina inundada em que está mergulhada a justiça portuguesa.

A AVILTANTE PROVIDÊNCIA CAUTELAR com que um regime caduco, velho e disforme, tentou calar a verdade, e impor a Censura Prévia, mostra que os velhos e criminosos costumes não desaparecem com facilidade, e que como o esterco, voltam a boiar na água porca sempre que um governante pouco dado a respeitar a Sagrada Liberdade do Povo, chega a São Bento e lhes dá rédea larga, para que pratiquem os seus abusos e desmandos.

Desde que o primeiro código de Leis foi publicado pelos Assírios, que as Leis escritas derivam de uma análise da realidade, de um estudo dos equilíbrios entre o Bem e o Mal, em que a lei deve proteger aquele ou aqueles que agem Bem e punir aqueles que agem Mal.

As leis estão escritas, mas elas partem de uma análise da realidade que teve que se basear em algo que comummente se designa por senso comum e o bom senso é a base de qualquer acção ou decisão justa.

Quando os actores da «Justiça» esquecem completamente o bom senso e se limitam a olhar para a letra de Lei, dão lugar a que não recorrendo a esse bom senso se possa (como o prova a prática) chegar a decisões desastrosas, desajustadas, quando não injustas aos olhos do povo.

Por razões formais, os juízes vestem Toga. A vestimenta é meramente cerimonial, e destina-se a dar aos actos uma aura de dignidade que os deve acompanhar.

Na fábula de Hans Christian Andersen, um monarca louco desfila pelas ruas pensando trajar a mais ricamente ornamentada das vestes. Na verdade, o rei vai nu, mas ninguém se atreve a dize-lo.
Apetece dizer que, em Portugal, uma parte dos pobres e decadentes actores da justiça, pensam que levam a Toga, mas na verdade vão despidos de qualquer veste, mostrando a sua pele macilenta, a sua ossada prestes a desconjuntar-se e as «partes» tapadas com um avental branco.

A credibilidade que lhes era dada pela Toga que pensam trazer vestida, foi perdida há muito, nos tapetes do templo.




[1] - Tais movimentos, reconhecidamente utilizaram o expediente do assassinato para ultrapassar problemas do tipo. É assim que é assassinado Eduardo Mondlane, em circunstâncias estranhas morreu Amílcar Cabral, na mesma Guiné-Bissau onde foi assassinado Nino Vieira. Também Agostinho Neto terá sido assassinado em circunstâncias não esclarecidas. Em quase todos os casos a polícia secreta portuguesa foi considerada culpada. As evidências no entanto apontam para conflitos internos dentro dos respectivos movimentos.
Também o dirigente comunista português Álvaro Cunhal terá mandado executar vários dos seus próprios camaradas de partido para resolver questões internas.

[2] – A frase foi citada por políticos da oposição que estavam presentes. A versão mais corrente é a de «Obviamente demito-o». Delgado não terá realmente afrontado Salazar como se fez mais tarde crer.

Mensagem automática publicada por : PM

domingo, janeiro 24, 2010


A bomba terremótica de Hugo

No meio da confusão provocada pela catástrofe no Haiti, o mundo todo tentou enviar para aquele destroçado país, a ajuda internacional que foi possível organizar.
Na frente do esforço internacional, destacam-se evidentemente, os Estados Unidos, o país que no mundo mais capacidade logística tem, o que é ainda mais importante, se tratandoe de uma pedaço de terra que não pode ser atingido sem um barco ou um avião.

O país norte-americano, encontra-se a apenas 1200km de distância por via aérea, o que faz com que seja o mais próximo de todos os países da região, com capacidade para enviar auxilio humanitário eficaz.

É naturalmente óbvio, que nenhum país além dos Estados Unidos tem a capacidade necessária para montar uma operação de assistência humanitária da dimensão e magnitude da que é necessária no Haiti.
A conhecida recusa dos Estados Unidos em colocar suas tropas sob comando das Nações Unidas tornou inevitável uma intervenção unilateral, combinada com o presidente do país do Caribe.

Conhecendo a situação real no Haiti, o comando das forças norte-americanas jamais poderia iniciar uma operação de ajuda humanitária, sem primeiro garantir a segurança de seu pessoal.
Sabemos que o Haiti está muito longe de ser um país onde esteja garantida a segurança mínima dos cidadãos e forças de ajuda humanitária seriam inevitavelmente os primeiros alvos de gangues que já existiam e que facilmente poderiam tomar conta da situação. Os brasileiros no terreno são as primeiras testemunhas disso.

O pequeno contingente das Nações Unidas já de si afetado pelo próprio sismo, não tinha capacidade para garantir a segurança do pessoal da ajuda humanitária e ao mesmo tempo ajudar em operações de salvamento. Além disso, as unidades comandadas pelo Brasil conheciam o terreno e seriam sempre muito mais úteis na ajuda direta à população. A ajuda americana foi por isso bem vinda, especialmente por aqueles que no terreno sofreram as consequências do desastre.

Ódio anti-americano e mentiras

Há porém em vários países do mundo, uma corrente - que não é nova, e cujas origens se encontram no mais fundo da Guerra-Fria - que parece interessada em continuar na linha de ódio e patético anti-americanismo típica do período em que Stalin, Krutchev ou Brejnev impunham com terror e sangue sua linha de pensamento, desde a capital imperial soviética até aos países dominados e amordaçados pelos regimes ditatoriais comunistas.
Esses setores, continuam tentando ver em todas as ações dos americanos uma demonstração de imperialismo, de maldade, de sacanagem, ignorando toda a ajuda, todos os milhões gastos pelos americanos num país que nunca vai poder pagar nada de volta.

Incapazes de ajudar o Haiti, os países que odeiam a América – e aqui inclui-se E.U.A. e Canadá - destilam seu ódio na forma de teorias da conspiração, cada uma mais patética que a outra, numa tentativa de esconder sua própria incompetência e sua própria incapacidade para apoiar os outros países quando é necessário.

De todas as teorias conspirativas, destaca-se uma que, como todas as teorias conspirativas tem uma origem disfarçada de pseudo-ciência, e que como todas as outras origina de obscuras universidades que nunca existiram, ou de entidades oficiais que nunca disseram nada do que lhes é referenciado.

A imprensa «marrom» e a bomba terremótica de Hugo

Ainda que no ocidente não nos tenhamos apercebido disso, apareceu há alguns anos na Rússia uma nova vaga de jornais online, que pretenderam preencher o vazio deixado pela imprensa séria, quando esta se recusou a baixar a cabeça perante o poder e o terror imposto por Vladimir Putin e organizações criminosas que o suportam.
É por isso que é comum aparecerem no ocidente referências a jornais russos que eram conhecidos no tempo da União Soviética.

O exemplo mais conhecido é o jornal PRAVDA (verdade em russo) e que era o órgão oficial do Partido Comunista Soviético.
O dito jornal, cuja assinatura era obrigatória na URSS para todas as entidades oficiais e organismos públicos foi dissolvido e passou a versão online.
O novo Pravda, como muitos outros jornais online na Rússia, já nada têm que ver com suas antigas raízes, mas a verdade é que o nome – que era a única coisa conhecida no ocidente – ficou associado à nova versão online.

A crise no Haiti, mostrou como funcionam os mecanismos da imprensa marrom russa, e a facilidade com que, utilizando a organização tentacular das agências de comunicação de Chavez e seus apaniguados, é possível inventar notícias e transformar teorias absurdas em notícias comentadas no mundo, como foi a notícia de que os norte-americanos foram sem dúvida os responsáveis pelo terremoto no Haiti.

A notícia da bomba atômica terremótica (segundo uns) ou arma de impulsos electromagnéticos (segundo outros), teve origem nessa mesma imprensa marrom russa. Alegadamente a bomba foi acionada pelos americanos para fazer um teste que resultou mal. A imprensa marrom russa afirmou que a marinha da Rússia avançou com a afirmação, mas absolutamente nenhuma informação sobre o assunto se confirmou ter origem em qualquer entidade próxima da marinha daquele país.
Também não foi explicado porque razão os americanos terão continuado ativando os terremotos no Haiti, mesmo depois de suas tropas terem desembarcado.

Irã também está na lista dos alvos a atingir pela bomba terremótica

A propaganda Chavista se agarrou-se à notícia sensacionalista e rapidamente o próprio Hugo Chavez berrava desde Caracas, que os americanos usaram a bomba terremótica para justificar a invasão do Haiti e ocupar a ilha.
Também parece que os russos dizem que os norte-americanos estão preparando a sua super-arma-terremótica para atacar e destruir o Irã.

As afirmações sobre armas esquisitas não são exclusividade da imprensa russa e de seu aliado chavista. Há alguns anos circulou na internet a notícia de que a Força Aérea Norte-americana tinha planos para produzir uma «bomba-gay», destinada a induzir comportamentos homossexuais nos militares inimigos. Como é normal nas teorias conspirativas, a notícia tinha um fundo de suporte técnico, mas não passou de uma hipótese teórica.
Não é impossível, que os Estados Unidos estejam mesmo desenvolvendo uma super arma terremotica-gay, que Deus nos salve dela e de seus nefastos perigos, pois destina-se provavelmente a qualquer função inenarrável. A bomba será provavelmente utilizada contra o Irã, país onde não existem homosexuais.

Na verdade, a afirmação de Chavez era tão absurda, que o próprio terá sido aconselhado por seus ministros a ficar calado, pois a notícia - se atingisse maior divulgação - poderia ser utilizada como prova de demência. A notícia sobre a bomba terremótica foi removida do sistema de propaganda Chavista «Telesur» e substituída apenas pelas acusações de invasão do Haiti.

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sábado, janeiro 09, 2010


MILITARES PELA CIDADANIA

Encontrado em: http://www.scribd.com/doc/22019292/MILITARES-PELA-CIDADANIA

Como dizem alguns teóricos, as regras e consequências do sistema capitalista inevitavelmente se ampliam a todas as sub-sociedades, ou sub-campos existentes, fazendo com que estes também sejam organizados segundo as leis gerais do mesmo, apresentando-se também divididos em classes sociais às quais correspondem papéis a serem exercidos, de dominação ou subordinação conforme a posição que ocupam nas diferentes estruturas de poder. Nesse caso poderíamos considerar que a oficialidade seja a camada "superior" enquanto os praças formam a camada "inferior" da estrutura militar.
Analisando segundo um ponto de vista Marxista, a categoria composta pelas praças das forças armadas seria uma "classe em si", pois possui prerrogativas, obrigações, ambientes de sociação, planos de carreira e funções específicas. Contudo, observamos que não é ainda uma "classe para si", pois permanece em uma situação diferente de grande parte dos grupos menos favorecidos nas estruturas de poder do séc.XX, visto que estes, depois de se reconhecer como classe, voltaram-se à desenvolver possibilidades de interagir para compensar as perdas comuns. Condição que resultou em um ambiente de sociação bastante abrangente, que ao longo do tempo levou diversos agrupamentos a conquistar o direito, hoje amplamente amparado pela Constituição Brasileira, de criar associações de classe, sindicatos etc.
Segundo dados do IBGE, o Brasil possuía, ainda em 2004, mais de 350.000 organizações não governamentais, entre elas estão os sindicatos, associações e cooperativas. Esse número nada desprezível mostra que para cada grupo de aproximadamente 550 brasileiros existe uma organização não governamental.

Embora a nossa sociedade esteja passando por esse momento de amplo associativismo, os membros das Forças Armadas brasileiras têm alguns obstáculos para se beneficiar dessa "onda", um deles é a grande quantidade de regras diferentes das estabelecidas para o restante da sociedade.

A associação para obtenção de melhores condições de trabalho nunca fez parte da cultura das praças das forças armadas, e existem regras, explicitas e implícitas, que combatem essa possibilidade. Na Marinha do Brasil, por exemplo, há um velho ditado que diz: "Mais de um é motim". No anexo "I" do Regulamento Disciplinar para o Exército, aprovado pelo Decreto Nº 4.346, de 26/08/2002, consta uma grande relação de proibições acerca de manifestações coletivas . Paradoxalmente, a própria Constituição Brasileira de 1988, estabelece que: "XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento; XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;"

Mesmo sob proibição e vigilância cerrada, ao longo dos anos ocorreram várias manifestações classistas advindas das camadas subalternas das forças armadas, todas visando melhores condições de trabalho. Nenhuma delas, apesar das acusações dos comandos militares, apresenta indícios concretos de que tenha sido motivada por ideais de ordem político-revolucionária, mesmo assim seus protagonistas, e os próprios movimentos, foram banidos da memória militar. A Revolta da Chibata e a Revolta dos Sargentos de Brasília, por exemplo, são encarados até hoje como tabu dentro das instituições militares, não sendo sequer citados nos currículos das escolas de formação de praças.
Mesmo sendo ampla maioria, as praças não têm nenhuma representação na elaboração das normas, decretos e leis pelos quais é determinado o seu quotidiano. É-lhes negado o direito de participar da elaboração de planos de carreira, escalas de serviço e regras particulares que especificam suas atividades, muitas vezes insalubres. Estas frequentemente são tarefas similares as realizadas por trabalhadores civis que contam com sindicatos e associações de classe para lhes amparar na conquista e preservação de direitos, ao mesmo tempo que orientam a classe patronal no sentido de preservar a integridade física e psicológica dos trabalhadores. Entre as profissões encontradas entre as praças das forças armadas, que comumente - quando realizadas por trabalhadores civis - têm especificações diferenciadas em relação à jornada de trabalho, equipamentos de segurança e ambiente especial, citamos: Soldadores, maçariqueiros, mecânicos, pintores, carpinteiros, enfermeiros, rádioperadores, controladores de vôo, mergulhadores, operadores de radio, motoristas e eletricistas.

Na atualidade as normas referentes à organização do trabalho levam em consideração não só a saúde do trabalhador, mas também toda a sua qualidade de vida, e devem incluir a valorização da pessoa humana e a satisfação profissional e social. Tal perspectiva emana do entendimento de que a qualidade de vida é um princípio fundamental para a organização do ambiente de trabalho, promovendo maior produção, satisfação pessoal e motivação. Ocorre que dentro das instituições militares, as praças, mesmo que executem tarefas similares às realizadas por trabalhadores civis, não são consideradas trabalhadores normais, e, conseqüentemente, não são amparadas pelas legislações trabalhistas e pela nova ótica de bem estar no trabalho, estando bastante defasados em relação às condições de trabalho concedidas ao trabalhador civil que executa as mesmas atividades.
Os regulamentos militares exaltam a obediência e execram a contestação e desobediência, para eles o bom militar é aquele que persegue obstinadamente o cumprimento de qualquer tipo de ordem superior, seja ela atirar no inimigo, seja pintar uma parede, seja descumprir a Constituição! , a menor hesitação pode ser considerada contravenção ou crime militar. Simplesmente comentar com um companheiro acerca de ilegalidade de uma determinação ou de dificuldades como ambiente inadequado, excesso de horas trabalhadas ou falta de equipamento para o cumprimento de uma tarefa, também poderá ser considerado indisciplina.
Nessa linha de raciocínio, já que a partir da suposta indisciplina advêm a punição, chegamos a (já famosa) questão da vedação constitucional ao Habeas corpus para os militares em caso de punições disciplinares. Alega-se que, este, se permitido afetaria a hierarquia e disciplina. Ora, fica a pergunta: A correção de uma punição injusta, por meio de habeas corpus, seria uma afronta à hierarquia e a disciplina?
Não seria mais injusto manter uma arbitrariedade?
No meio civil, que também é hierarquizado, o Habeas Corpus é um remédio legal contra abusos de autoridade e erros de interpretação da legislação. Nas forças armadas, onde pode-se dizer que há um "plus" em relação a hierarquia e disciplina, com possibilidade de que punições (inclusive de privação de liberdade) sejam impostas por autoridades com pouca ou nenhuma noção de ciências sociais aplicadas, nada mais obvio que permitir - e até agilizar - o uso desse eficaz remédio constitucional.
Justamente por conta da defasagem de direitos em relação à sociedade civil é que, ao longo dos últimos anos as associações de militares tem se esforçado por modificações na CF1988, lutando para que a sociedade militar seja amparada pela mesma onda de direitos que chega à sociedade em geral, contudo suas diretorias constantemente tem sofrido com perseguições e sanções, sendo constantemente acusadas de indisciplina por supostamente afrontar os regulamentos.

Historicamente as manifestações que partem das praças são consideradas ilegais. "Por outro lado, o alto comando das Forças Armadas, que tem sido sempre muito rigoroso em coibir as manifestações de indisciplina que, eventualmente partem de camadas subalternas da estrutura militar, tem trocado o rigor por condescendência sempre que essas manifestações partem do oficialato". (MOROSINI 1998)
Os vários manifestos elaborados pelo clube militar são um exemplo claro disso. Segundo Liseane Morosini (1998): Inúmeros exemplos dão conta de que o Exército e a Aeronáutica não apenas "protegeram" a estrutura hierárquica de comando na repressão a manifestações, como agiram sob formas diferenciadas no tratamento das mesmas. Nas revoltas lideradas por oficiais (...) muitas vezes houve condescendência. Mas, nas promovidas por praças, o argumento de corrosão da estrutura faz com que o combate seja sempre mais ostensivo. Provavelmente por conta da escolaridade da categoria, seu modo simples de falar e a falta de status social, suas manifestações são consideradas como precipitadas, descabidas ou impulsionadas por elementos de fora das forças armadas, subversivos ou agitadores (VASCONCELOS, 2008). Contudo, atualmente uma parcela considerável das praças tem formação superior, fator que poderia então, por essa ótica, validar os movimentos atuais.
Outra questão interessante e bastante discutida se refere à própria Justiça Militar. Em vários artigos jurídicos encontrados na internet se levanta a questão da composição dos conselhos de justiça, pelos quais se decide o destino dos militares acusados de crimes militares (a maioria são praças), estes conselhos contam somente com a oficialidade, sendo negado à outra parcela do contingente o direito de ser julgados também por seus pares .

Está em andamento desde o fim do sec. XIX um movimento silencioso - quase invisível aos olhos da sociedade civil - mas bastante abrangente, e que se agigantou nos últimos anos do sec. XX. O movimento congrega militares de todas as forças, visando a humanização das relações, melhores condições de trabalho e estabelecimento de limites legais para a dominação de uma classe sobre a outra. Contudo, além de todos os entraves legais que desestimulam a associação, as praças das forças armadas têm ainda que enfrentar o próprio habitus – para usar o termo no sentido em que o sociólogo Pierre Bourdieu o coloca – tendo que vencer o arraigado espírito militar, introjetado por anos de treinamento e convívio na caserna. Hoje a categoria, em vários locais do país, vem lutando por organizar-se e pelo direito de fundar associações que visam principalmente conquistar maior humanização das condições de trabalho e relações hierárquicas dentro da caserna.
As discussões nesse sentido são cada vez mais comuns, principalmente pela internet, espaço em que diversos militares, praças e oficiais, desafiam a proibição de se manifestar publicamente, discutindo soluções, vitórias, derrotas ou simplesmente expondo as situações vividas no quotidiano dos quartéis(...)
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*Autorizado pelo Autor.
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