segunda-feira, julho 14, 2008


O que quer o Irão ?

Descobriu-se há poucos dias, que além de serem especialistas no lançamento de mísseis, os Guardas da Revolução iranianos também sabem trabalhar bem com o Photoshop, pois durante o lançamento de 4 mísseis Shahab-3, ocultaram o falhanço de um deles nas imagens divulgadas. Não é que o episódio tenha especial relevância no caso em análise, mas mostra que temos que ter algum cuidado para perceber o que é propaganda e o que é real na capacidade.

Nesta imagem pode ver-se o lançamento de 4 mísseis Shahab-3


2-Como se pode ver pela imagem, afinal um dos mísseis não saiu da rampa de lançamento, o que indica uma montagem na primeira foto.


É indiscutível que o Irão tem hoje em dia uma capacidade balística considerável no Médio Oriente, principalmente em mísseis de curto alcance (alcance <1,000 km). Desde o tempo da guerra Irão-Iraque e posteriormente, os iranianos foram adquirindo vários mísseis do tipo SCUD versão B e C. Pode-se também afirmar de forma segura que a partir de um certo momento, o Irão começou a fabricar estes mísseis a nível local, o que lhe permitiu ganhar experiência em todos os domínios da tecnologia balística.
Pensa-se também que uma boa parte dessa capacidade de produção e tecnologia veio da Coreia do Norte. Esta cooperação entre os dois países levou ao desenvolvimento de um míssil de médio alcance (> 1,000 km), conhecido como Shahab-3 e que tudo indica ser baseado no No-Dong 1 norte-coreano. O desenvolvimento e vários testes deste míssil têm gerado preocupação no Ocidente e em Israel, pois o seu alcance tem sido estimado entre 1,000 - 1,500 km, o que significa capacidade para atingir Israel ou mesmo bases na Turquia. Versões melhoradas do míssil podem ter alcances próximos dos 2,000 km, o que significa capacidade para atingir a Grécia ou a Roménia.
É óbvio que toda a informação relevante sobre este míssil é confidencial e o que é publicado pode não corresponder obviamente à verdade. Desta forma, muitos dos números sobre o desempenho do míssil, carga balística e precisão não são mais que mera especulação, baseados em estimativas de engenharia ou em declarações políticas iranianas que podem obviamente pecar por exagero. O mesmo acontece em relação à possibilidade do míssil poder ou não transportar ogivas não convencionais (químicas, biológicas, nucleares). As informações a este respeito são também demasiado especulativas e não se sabe se o míssil tem ou não essa capacidade.
Para já, o Shahab-3 tem servido como arma de exibição de força e como provocação ao Ocidente e a Israel. O estado israelita sabe que a verdadeira ameaça que o Irão pode representar é a obtenção de capacidade nuclear, não é a posse de alguns mísseis balísticos com cargas convencionais. Além disso, Israel possui um sistema de defesa antimíssil baseado no Arrow-3 e nos mísseis Patriot, que até a uma certa escala pode conter um ataque balístico iraniano.

Várias fontes públicas apontam que o Irão continua empenhado em prosseguir o seu programa de enriquecimento de urânio afirmando que tem direito à investigação e à produção de energia nuclear para fins pacíficos. O Ocidente continua obviamente desconfiado de tal pretensão e além de sanções tem oferecido a possibilidade do fornecimento do próprio urânio enriquecido.

A sério... É só para uso doméstico


Mas as negociações têm produzido poucos resultados nesse sentido. Mas é em Israel que o programa nuclear iraniano provoca mais apreensões. Os israelitas sabem que um Irão nuclear é uma ameaça grave para o estado hebraico e estão dispostos a tudo para impedir que isso aconteça. No início de Junho, a força aérea israelita realizou manobras aéreas no Mediterrâneo Oriental, mostrando a sua capacidade de atacar alvos a grande distância. Foi um recado para o Irão e para os países ocidentais. Se nada for feito, Israel tomará as suas próprias medidas.
Em resposta, os iranianos desenvolveram também os seus jogos de guerra com o lançamento no dia 9 de Julho de pelo menos de 3 mísseis Shahab-3, dado que o 4º ficou na rampa de lançamento como se pode ver na imagem.
Três dias depois, perante as reacções negativas do Ocidente, Mojtaba Zolnour, representante do ayatollah Ali Khamanei junto dos Guardas da Revolução, disse que em caso de ataque contra o Irão, 32 bases militares americanas na região e Israel sofrerão as consequências, pois estão ao alcance dos mísseis iranianos.
É claro que qualquer ataque israelita ao Irão incendiará o Médio Oriente. Os iranianos podem bloquear o estreito do Ormuz por onde passa muito do petróleo mundial e podem também provocar uma escalada de terrorismo contra Israel, não só nos territórios palestinianos como também no Sul do Líbano. As consequências nos preços do petróleo seriam também enormes provocando uma nova escalada de preços nesta matéria-prima.
Mas toda esta retórica de confrontação é um sinal, que o mais pequeno erro pode incendiar a região.
Não é segredo para ninguém que o Irão quer afirmar-se como a potência dominante do Golfo Pérsico e como o grande contrapoder a Israel. Para isso, precisa de capacidade nuclear, pois só assim poderá ser uma potência credível face ao grande poder militar e nuclear de Israel. Por seu turno, os israelitas não pretendem perder o monopólio nuclear que possuem na região e que lhes dá uma capacidade acrescida de dissuasão contra a qualquer potência inimiga. Por esta razão, qualquer entendimento entre os dois países é impossível.
Só os EUA poderão resolver este problema, pois só os americanos possuem poder e influência suficiente para gerar uma solução negociada com o Irão, que permita estabilidade na região. Para isso é preciso um diálogo directo entre a administração americana e Teerão, coisa que não existe actualmente.

Mensagem automática publicada por : José Matos

quinta-feira, julho 10, 2008


O U-214 da marinha portuguesa

Com a divulgação das primeiras fotos do primeiro de dois submarinos encomendados pela marinha portuguesa aos estaleiros alemães HDW, ficaram esclarecidas as dúvidas que alguns ainda se colocavam sobre o submarino U209PN, o modelo de submarino escolhido pela marinha portuguesa para substituir os quatro vetustos submarinos franceses da classe Daphné comprados no final dos anos 60 e dos quais ainda se mantém um em serviço.

Antecedentes da aquisição
O processo de aquisição de submarinos por parte da marinha portuguesa arrastou-se ao longo de muitos anos. Os submarinos Daphné, já eram claramente obsoletos desde os anos 80, e a sua substituição começou a ser estudada no final dos anos 90, ainda durante o governo de António Guterres. Em 1998, o Ministério da Defesa, começou a solicitar informações ao mercado, tendo em vista a substituição da esquadra de quatro submarinos Scorpene, reduzida a três unidades após 1974.

Desde 1998, que duas empresas se destacaram. A francesa DCN e a alemã HDW [1], tendo sido recusadas outras propostas, como a holandesa e britânica.

O processo de decisão arrastou-se durante cinco longos anos, sem que qualquer decisão tivesse sido tomada, e com a obsolescência dos navios e o seu envelhecimento, a por em causa a continuação da arma submarina na marinha portuguesa [2].

Em 2003, é finalmente tomada uma decisão, sendo no entanto reduzido o numero de navios a adquirir de três [3] para apenas dois e de entre os dois modelos em apreciação, a marinha portuguesa optou pelo modelo alemão, preterindo o modelo francês.

A decisão, como é normal nestes casos, esteve envolvida em polémica. Não por razões técnicas, mas por razões processuais, sendo o governo português acusado pela empresa francesa DCN de ter mudado as regras do concurso de forma ilegal, aceitando a apresentação à última hora, de um novo modelo de submarino por parte dos alemães da HDW, o submarino modelo U-214.
A questão chegou ao Supremo Tribunal Administrativo, que deu razão ao governo português.
O submarino português seria chamado de U-209 (porque tinha sido o U-209 o modelo apresentado desde o inicio do concurso pelos alemães), mas seria chamado de U-209PN (Marinha Portuguesa).

U-209PN: Um U214 disfarçado
Este estranho nome, que foi ridicularizado internacionalmente e apelidado de (U-214 in disguise, ou U-214 disfarçado) foi a consequência que ficou do concurso internacional e das circunstâncias em que este decorreu, com a apresentação por parte da HDW do modelo U-214, quando segundo a imprensa portuguesa se tinha tornado evidente que o anterior modelo alemão U-209 estava condenado a perder o concurso.

E é com esta designação «curiosa» que foram recentemente divulgadas na Internet, as primeiras fotos dos futuros submarinos da marinha portuguesa.

As fotos divulgadas num site da internet dedicado a questões navais, deixam poucas dúvidas, e apenas confirmam aquilo que neste site foi já publicado e referido por diversas vezes.

Não há, nem nunca houve um submarino U-209PN!
O futuro submarino da marinha de guerra portuguesa é o submarino alemão modelo U-214!

Quando tentamos efectuar comparações entre o modelo U-214 (e quando falamos de U-214, referimo-nos ao futuro submarino da marinha), notamos que as suas características e o seu sistema de propulsão independente do ar - um sistema que se está a tornar comum entre muitas marinhas do mundo - pode-se concluir que o U-214 parece ser mais sofisticado e mais adequado às necessidades do país que o concorrente francês que foi derrotado.

No entanto, existem referências na imprensa, de que os primeiros submarinos do tipo U-214 da Grécia, apresentaram vários problemas, cuja solução - segundo fontes da Grécia - se apresenta até ao momento difícil.

Será necessário ter em atenção o que se passa com os submarinos U-214 da Grécia. As informações são contraditórias, e a existência de problemas com um modelo de navio que acaba de ser lançado [4] não é de forma alguma incomum.

No entanto, não se pode deixar de esperar que na marinha, haja algum prurido e problema em falar deste problema.

Em primeiro lugar, a Marinha não pode afirmar claramente que o submarino que acabou de comprar é de facto um U-214 (como as fotos colocadas online provam, e como as próprias maquetas da marinha já indicavam), pois isso pode ter implicações.

Além disso, a marinha terá interesse em tentar afastar-se dos problemas do U-214 da Grécia (no caso de tais problemas se confirmarem), porque a questão dos submarinos é normalmente utilizada em Portugal como arma de arremesso político, normalmente por jornalistas cuja informação sobre temas militares é bastante pior que a de um «miudo de dez anos».

Receando a desonestidade que é comum na vida politica portuguesa e temendo ser vítima de jogos políticos, a Marinha de Guerra Portuguesa vai enfrentar problemas.
Por razões políticas e invejas pessoais, a Marinha corre o risco de se transformar no bombo da festa, onde os intervenientes não terão o mínimo escrúpulo em tentar ridicularizar aquela que é uma aquisição estratégica de importância primordial, para que Portugal possa garantir a réstia de soberania que ainda lhe resta sobre as águas do triangulo estratégico Continente-Madeira-Açores.

Contra a Má-Fé que normalmente move grande parte da classe política portuguesa, muito mais preocupada com os seus pequenos escândalos, as suas pequenas corrupções e os seus interesses mesquinhos, a marinha está relativamente desprotegida.

Numa altura em que se aproximam eleições, eventuais problemas com o desenvolvimento dos submarinos U-214 serão sem dúvida utilizados para ganhar votos, destruir personalidades, acusar opositores políticos, enfim, para a tradicional lavagem de roupa suja, típica de uma classe política conhecida e reconhecida pela sua falta de qualidade e de moral.

Aproximam-se tempos difíceis e a facilidade com que a classe política e parte dos jornalistas deste país distorcem a realidade para criar factos políticos que vendam jornais, ameaçam afectar, senão por em causa, uma das mais estratégicas aquisições das forças armadas portuguesas.

E se não se conseguir por em causa a aquisição dos submarinos, vai-se colocar em causa a aquisição de qualquer sistema de armas.

Afinal, para que havemos de ter Forças Armadas, se temos a Espanha para nos defender ?



[1] - Qualquer destas empresas é apenas a «cabeça» de um consórcio que pretende responder completamente os requisitos de cada marinha, pelo que todos os submarinos, mesmo que do mesmo tipo acabam por ser diferentes

[2] - Os submarinos portugueses, são a única arma naval realmente dissuasora a que o país pode aspirar. O facto de estar protegido pelas águas, não sendo conhecida a sua posição, aliado à possibilidade de poder atacar alvos navais valiosos, desencoraja a violação das águas territoriais e da ZEE do país.

[3] - Inicialmente a esquadrilha de submarinos do tipo Daphné era constituída por 4 unidades

[4] - Também o modelo Scorpene francês apresentou vários problemas no seu primeiro modelo, vendido para o Chile.

Mensagem automática publicada por : Paulo Mendonça