sexta-feira, dezembro 14, 2007


O Kosovo

O Kosovo passou a fazer parte do nosso vocabulário, ou pelo menos do vocabulário daqueles que estão mais atentos ao que se vai passando pelo nosso mundo.

Território da antiga Jugoslávia, o Kosovo, que tem uma maioria de população de origem albanesa, prepara-se para declarar a independência, provavelmente durante as primeiras semanas de 2008, pois os dirigentes kosovares declararam que não vão esperar até Maio para declarar a independência do pequeno território.

O problema do Kosovo, é complexo e potencialmente explosivo por razões históricas, dado o Kosovo ser parte da Sérvia desde o período de criação do país.

Podemos encontrar referências ao reino da Sérvia desde o século XI, resultado da chegada aos Balcãs dos povos eslavos. A Sérvia foi criada a sul do Danúbio, entre o mar e o reino da Bulgária. Mas em 1389, apenas quatro anos depois de em Portugal ocorrer a batalha de Aljubarrota, a Sérvia foi também invadida, só que ao contrário dos portugueses em Aljubarrota, os Sérvios foram derrotados nesse ano de 1389 num lugar chamado Pristina, onde presentemente se encontra a capital do Kosovo.

Batalha de Pristina: A Alcácer Quibir dos Sérvios
Ao contrário de uma «Aljubarrota» a batalha de Pristina foi muito mais uma espécie de batalha de Alcácer Quibir, em que o próprio rei sérvio cai ao comando de um exército de 70.000 cristãos, batido por um exército calculado em mais de 140.000 turcos otomanos.

A batalha de Pristina, no Kosovo serviu como aglutinador da nação Sérvia desde 1389 e é à batalha que ocorreu no Kosovo em 1389, que o espírito de resistência dos Sérvios irá buscar as energias e a justificação para a determinação com que resistiu à hegemonia do mais poderoso dos império da Europa, o império dos Turcos Otomanos.

A principal arma sérvia - como nação ocupada - foi a arma da religião. Cristãos ortodoxos por terem feito parte do antigo Império Bizantino, os sérvios diferenciaram-se assim dos seus senhores muçulmanos por serem cristãos e mantiveram muita da sua cultura e tradições, jurando vingar a derrota do Kosovo e voltar a erguer a Sérvia contra os turcos otomanos.

A lenta decadência do império otomano, levou a que finalmente os antigos territórios da Servia acabassem por ser parcialmente libertados, em parte com o auxílio do poder do império austríaco.

Desde 1871 que a Sérvia era independente e em 1878 os territórios do Kosovo são novamente reintegrados na Sérvia, que tinha como objectivo restabelecer as suas antigas fronteiras anteriores à chegada dos otomanos no século XIV. Este movimento leva a Sérvia a expandir-se novamente para os territórios do Montenegro e do Kosovo.

Os sérvios nunca deixaram de planear a sua expansão e já no século XX entraram em conflito com o império Austro-húngaro por causa da Bósnia-Herzegovina o que levou à primeira guerra mundial.
Os planos sérvios para a construção da Grande Sérvia, adequaram-se à construção da Jugoslávia, criada das ruínas do império Austro-húngaro. Com o fim da II guerra mundial, subiu ao poder na Jugoslávia um croata chamado Josip Broz Tito mas a sua morte acabou por levar à desintegração da Jugoslávia.

Hoje, embora a Jugoslávia tenha deixado de existir, resta ainda o nacionalismo Sérvio, moldado desde a batalha de Pristina.

É um dos lugares mais marcantes para a identidade nacional dos Sérvios, o lugar onde se deu a batalha que serviu durante séculos como referência da resistência sérvia aos turcos muçulmanos que agora ameaça separar-se da Sérvia.
A separação é justificada por uma alteração demográfica que levou a que hoje a maioria da população do Kosovo seja albanesa, e praticante da religião (muçulmana) contra a qual a Sérvia se mobilizou e à qual resistiu durante séculos.

O Kosovo é por isto um rastilho, mais um, num mundo já de si cheio de problemas. O problema, ameaça ainda dividir os países da Europa, que defendem diferentes pontos de vista.

Não parece ser legítimo que uma maioria étnica possa declarar a independência, sem ter uma clara argumentação histórica que justifica a sua pretensão. Além disto, a simples possibilidade de um pequeno país declarar unilateralmente a independência cria na Europa precedentes perigosos, que podem conduzir a que outros pequenos povos, nomeadamente aqueles que estão protegidos pela sua presença na União Europeia sigam o mesmo caminho. O Kosovo é uma caixa de Pandora

Mensagem automática publicada por : Pedro Brás