segunda-feira, setembro 19, 2005


Nós é que temos as armas

Na sequencia das manifestações corporativas de alguns membros das Forças Armadas, ao que consta, da classe de Sargentos terá surgido a expressão, “Somos nós que temos as armas”, a qual foi publicamente noticiada.

Não bastava o facto de os policias terem andado na rua a insultar o próprio Ministro da Administração Interna, dando aos cidadãos, em plena praça pública, a ideia e a impressão de que os policias não passam de um grupo de arruaceiros que juntos são iguais a um grupo de hooligans de algum clube de futebol.

No entanto, as corporações militares conseguiram fazer ainda pior que a corporação dos policias.

Ao utilizar a expressão “Nós é que temos as armas” os militares acabaram por apontar as armas à cabeça de toda uma nação, iniciando um processo de chantagem, em que todos estamos encostados à parede.

Que outra interpretação pode ser feita, quando as Forças Armadas, lembram um ministro de que têm armas, numa altura em que estão no auge de um processo reivindicativo?

Só pode haver uma interpretação para esta ameaça: As associações militares, pensam ou pensaram, em vir para as ruas com essas mesmas armas e com elas, impor a defesa dos seus interesses corporativos.

Perante esta reacção corporativa violenta, é de esperar uma reacção da Sociedade Civil. Uma reacção das pessoas que se acham chantageadas.

Perante esta situação, é inevitável que se coloque em causa uma instituição que mesmo com várias reorganizações continua a ser um modelo de ineficiência, e de total inutilidade. As F.A. têm alguns núcleos de excelência, cercados por equipamentos absolutamente obsoletos e inúteis,. Num país onde as Forças Armadas, pela sua fraca operacionalidade e eficácia, não conseguem “mostrar serviço” é inevitável que a opinião pública coloque em causa a sua própria existência

As associações profissionais das Forças Armadas transformaram-se em sindicatos, e a cada movimentação, acabam a dar repetidos tiros no pé.

A opinião pública não entende que os militares – logo os militares – que quer se queira quer não e por muito que eles o neguem, têm efectivamente um conjunto de direitos, especialmente ao nível dos Oficiais, que permitem chama-los de cidadãos privilegiados protestem, numa altura em que todo o país está numa crise de dimensões profundas.

É o próprio país e a sua existência que é posto em causa pela crise. A Forças Armadas, eram a única garantia de manutenção de pelo menos alguma independência politica.

Ao entrar em questiúnculas sindicais e politicas os militares das associações corporativas contribuíram para aumentar a depressão dos portugueses, e para aumentar o sentimento de descrença no país.

Esfumou-se a imagem do militar romântico, que está disposto a dar a vida pelo povo e pelo direito à liberdade. Essa imagem foi substituída, pelo oficial desleixado, que está apenas interessado nas férias que vai marcar, nos produtos de primeira necessidade que vai “sacar” no fim do mês, dos direitos à assistência médica de primeiro mundo, extensivos à esposa, mesmo que esta se tenha separado judicialmente.

O facto de as Forças Armadas se terem transformado em parques de veículos velhos e praticamente inúteis, deixou de ser importante.

Fica a ideia de que, em caso de guerra, ou de conflito, as associações de Oficiais e Sargentos deporão as armas se um qualquer invasor lhes aumentar o salário.