segunda-feira, fevereiro 22, 2010


A falta de meios novamente à vista

De forma trágica, com mortos, feridos e destruição, as chuvas torrenciais na ilha da Madeira, que devastaram a cidade do Funchal, bem assim como vários municípios limítrofes, vieram por a nu, as debilidades das forças armadas portuguesas e do pais no seu todo, no que respeita à capacidade para apoiar as populações civis em caso de desastre natural.

Passadas 48 horas da catástrofe, e quando ainda há alarmes sobre a possibilidade de deslizes de terras provocados pelas chuvas, as quais tornaram instáveis os solos, a capacidade portuguesa de enviar auxilio para uma parte do território nacional, está limitada a dois aviões C-130 e a uma fragata da classe Vasco da Gama.
O envio daquele meio da marinha aliás, demonstra por um lado a incapacidade e a falta de meios e por outro a tentativa por parte dos governantes de mostrar serviço.

Mas independentemente da abnegação e da dedicação dos militares a bordo daquele meio da marinha, uma fragata da classe «Vasco da Gama» especializada na luta contra submarinos e equipada para abater aviões, serve de relativamente pouco para prestar auxilio a populações civis. Os 200 militares que transporta, seriam eventualmente mais eficazes se fossem enviados para a ilha de avião, onde seguramente chegariam mais cedo.

Há já décadas que a marinha portuguesa tem planos para a construção de um navio de apoio logístico [1] que permita, em conjugação com os restantes meios das forças armadas não só realizar operações militares, mas também actuar em situações de emergência, como é o caso da situação que presentemente ser vive na Madeira.

• Para que serve o Navio de Apoio logístico ?
Este tipo de navio, normalmente designado pela sigla NAVPOL é basicamente uma plataforma flutuante, a bordo da qual podem ser transportados militares e viaturas, de forma a permitir a sua utilização de forma rápida e tão eficaz quanto o permitir a situação no terreno.

Independente das suas valências em termos militares, é um navio que possui no seu interior, lanchas de desembarque, e que pode por exemplo transportar desde tractores, empilhadores e bulldozers até ambulâncias. Ao contrário de outros navios, que precisam de um porto adequado para o desembarque dos meios, o NAVPOL, pode em caso de emergência e necessidade - e caso o porto seja destruído ou não esteja operacional – colocar os meios que transporta utilizando a sua capacidade própria de funcionar como doca flutuante.

Numa situação de emergência como a que ocorreu na Madeira, várias pontes foram destruídas, e embora a engenharia militar disponha de meios para apoiar as populações em alguns casos, não possui a necessária capacidade autónoma de transporte para enviar para a Madeira esses equipamentos.
O país ficará dependente da capacidade para a mendicidade que tem mostrado ser uma das características mais vincadas dos dirigentes do actual governo português.

Naturalmente que o país receberá, por pena, apoio exterior. Esse apoio é naturalmente bem vindo, pois se não temos meios próprios, então que haja outros.
O problema, evidentemente, é o atraso que o facto de não se possuírem meios próprios provoca.

Porque não temos um NAVPOL ?

É absolutamente natural que se coloque a questão, ainda mais quando se sabe que navios deste tipo são até um pouco mais baratos que os submarinos adquiridos pela marinha. Um Navio de Apoio Logístico poderá ter um custo entre os 200 e os 350 milhões de Euros [2] (considerando as necessidades portuguesas), enquanto que os submarinos têm um custo que ronda os 500 milhões.

O anterior ministro da defesa Nuno Serveriano Teixeira afirmou, pouco tempo após tomar posse da pasta, em Novembro de 2006 que considerava que o NAVPOL era mais urgente que os submarinos, mas que estes não substituíam aquele.

A decisão de adquirir os submarinos foi portanto do governo em que foi ministro da defesa Paulo Portas, que defendeu a necessidade de aquisição daqueles meios.
O ministro Portas, foi na altura colocado perante a possibilidade de o país perder as capacidades que tinha no campo da arma submarina.
Temia-se que a marinha, reduzida de quatro a dois submarinos, perdesse a sua capacidade submarina para sempre, num país cuja única real riqueza é a sua posição estratégica e aquilo que hoje se denomina por Zona Económica Exclusiva.

Há um outro factor que levou a que os submarinos se tornassem mais importantes que o NAVPOL: A arma submarina tem tradição e tem uma estrutura montada, que é composta por meios humanos, pessoas que inevitavelmente contam e têm capacidade para explicar os seus pontos de vista.

Já a necessidade de um NAVPOL não tinha o mesmo tipo de adeptos e depende de um número de meios e estruturas que têm que ser criadas de raiz e que levam à capacidade de projecção de forças combinadas. Aparentemente esta visão, que faz sentido, não possuiu força suficiente para se superiorizar ao «Lobby» dos submarinos.

A ideia básica por detrás da aquisição dos submarinos antes de um navio logístico, se quisermos ser politicamente incorrectos foi a seguinte:
Ao adquirir os submarinos, salva-se a arma submarina, que o país precisa mas que a opinião pública não entende, e o NAVPOL acabará sendo construído, porque os cidadãos vão acabar por perceber a sua necessidade mais tarde ou mais cedo.
O raciocínio pode não parecer o mais decente, mas não deixa de ter a sua razão de ser.

Ainda assim, o país continua com o problema de não ter um navio de apoio logístico, cuja aquisição é ainda mais dificultada pela presente situação financeira.
A Madeira é um aviso, mas outros avisos deveriam ter sido já ouvidos.

As ilhas dos Açores, foram várias vezes afectadas por problemas decorrentes da sua origem vulcânica. Em caso de catástrofe, se aeroporto e porto de mar, numa dessas ilhas tornarem impossível o acesso, não haverá forma de prestar auxilio às vítimas em tempo útil.


[1] – A actual situação vem também demonstrar a necessidade de o país dispor de mais que um destes meios, porque os navios precisam manutenção e quando estão em reparações periódicas não podem ser utilizados.
[2] – Os números podem variar com muita facilidade e dependem do tamanho e configuração interna do navio, bem assim como do armamento que possam transportar, dado se tratar de navios militares.

Mensagem automática publicada por : Paulo Mendonça

sábado, fevereiro 13, 2010


Não nos podem prender a todos

Há quarenta e cinco anos, a 13 de Fevereiro de 1965, durante a manhã, nas proximidades da vila portuguesa de Olivença, caia assassinado o General Humberto Delgado.

As circunstâncias do assassinato não foram completamente esclarecidas. Se o regime português da altura tinha interesse em acabar com um possível opositor de peso - que era aliás conhecido como General Coca-Cola pelas suas tendências liberais e pró americanas - também não é de excluir que Delgado se tivesse tornado demasiado incómodo para os movimentos que se opunham ao regime [1].

Candidato à presidência nas eleições de 1958, recebeu oficialmente 23.6% dos votos, embora em termos de movimentação popular tenha conseguido efectuar grandes comícios e manifestações nos grandes centros urbanos.
Foram detectadas várias fraudes eleitorais que permitiram deduzir a possibilidade de Humberto Delgado ter de facto ganho as eleições.

Humberto Delgado, ficou conhecido como «General Sem Medo». Saído das fileiras do próprio regime e apoiante claro de Salazar desde a primeira hora, Delgado tinha sido enviado para o estrangeiro, onde se apercebeu da necessidade de uma renovação do regime.

Acreditando que tinha consigo a maioria da população (e provavelmente teria), o general enfrentou corajosamente um regime, que naquela altura parecia ter entrado numa fase de declínio, declínio esse que apenas a guerra em África e a invasão de Goa impediram, por criarem uma onda de simpatia que ajudou Salazar até ao fim.

Não nos podem prender a todos

Se é verdade que a mais famosa frase de Delgado foi «Obviamente demiti-lo-ía»[2] também não deixa de ser verdade que entre as várias afirmações que proferiu, passou à História aquela em que numa acção de propaganda, terá acalmado os seus simpatizantes, lembrando que a PIDE - a polícia do regime - não podia prender todos.


No dia de ontem, Sexta-feira, dia 12 de Fevereiro de 2010, um jornal português foi publicado, mesmo após ter sido colocado perante uma medida judicial de providência cautelar que determinava a proibição da sua publicação.

O acto, reveste-se de um grande significado, a apenas algumas horas da comemoração de mais um aniversário do assassinato de um português que morreu pela liberdade do seu pais, e constitui uma AVILTANTE e REPUGNANTE tentativa de censura, baseada num juízo miserável e indigno, de um qualquer juiz anónimo, actor na telenovela MISERÁVEL em que se transformou a vida política portuguesa.

Como no tempo do antigo regime, em que faziam parte do sistema judicial miseráveis juízes fantoches, que prostituíam a justiça, nessa aberração criminosa que foram os TRIBUNAIS PLENÁRIOS, também hoje, parece que há actores nesta atroz peça tragicomédia que chegaram ao mais baixo degrau da cave da latrina inundada em que está mergulhada a justiça portuguesa.

A AVILTANTE PROVIDÊNCIA CAUTELAR com que um regime caduco, velho e disforme, tentou calar a verdade, e impor a Censura Prévia, mostra que os velhos e criminosos costumes não desaparecem com facilidade, e que como o esterco, voltam a boiar na água porca sempre que um governante pouco dado a respeitar a Sagrada Liberdade do Povo, chega a São Bento e lhes dá rédea larga, para que pratiquem os seus abusos e desmandos.

Desde que o primeiro código de Leis foi publicado pelos Assírios, que as Leis escritas derivam de uma análise da realidade, de um estudo dos equilíbrios entre o Bem e o Mal, em que a lei deve proteger aquele ou aqueles que agem Bem e punir aqueles que agem Mal.

As leis estão escritas, mas elas partem de uma análise da realidade que teve que se basear em algo que comummente se designa por senso comum e o bom senso é a base de qualquer acção ou decisão justa.

Quando os actores da «Justiça» esquecem completamente o bom senso e se limitam a olhar para a letra de Lei, dão lugar a que não recorrendo a esse bom senso se possa (como o prova a prática) chegar a decisões desastrosas, desajustadas, quando não injustas aos olhos do povo.

Por razões formais, os juízes vestem Toga. A vestimenta é meramente cerimonial, e destina-se a dar aos actos uma aura de dignidade que os deve acompanhar.

Na fábula de Hans Christian Andersen, um monarca louco desfila pelas ruas pensando trajar a mais ricamente ornamentada das vestes. Na verdade, o rei vai nu, mas ninguém se atreve a dize-lo.
Apetece dizer que, em Portugal, uma parte dos pobres e decadentes actores da justiça, pensam que levam a Toga, mas na verdade vão despidos de qualquer veste, mostrando a sua pele macilenta, a sua ossada prestes a desconjuntar-se e as «partes» tapadas com um avental branco.

A credibilidade que lhes era dada pela Toga que pensam trazer vestida, foi perdida há muito, nos tapetes do templo.




[1] - Tais movimentos, reconhecidamente utilizaram o expediente do assassinato para ultrapassar problemas do tipo. É assim que é assassinado Eduardo Mondlane, em circunstâncias estranhas morreu Amílcar Cabral, na mesma Guiné-Bissau onde foi assassinado Nino Vieira. Também Agostinho Neto terá sido assassinado em circunstâncias não esclarecidas. Em quase todos os casos a polícia secreta portuguesa foi considerada culpada. As evidências no entanto apontam para conflitos internos dentro dos respectivos movimentos.
Também o dirigente comunista português Álvaro Cunhal terá mandado executar vários dos seus próprios camaradas de partido para resolver questões internas.

[2] – A frase foi citada por políticos da oposição que estavam presentes. A versão mais corrente é a de «Obviamente demito-o». Delgado não terá realmente afrontado Salazar como se fez mais tarde crer.

Mensagem automática publicada por : PM