sexta-feira, setembro 15, 2006


Um alerta no Afeganistão

Ao contrário do que muita gente já parece ter esquecido, a principal consequência directa dos atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001, não foi a remoção de Saddam Hussein do governo do Iraque, mas sim a intervenção no Afeganistão.

Quando os países da NATO, invocaram a 12 de Setembro de 2001, o Art. 5 do Tratado de Washington, passaram a ficar vinculados a essa decisão.

A partir de aí, vários países europeus enviaram contingentes de tropas para o Afeganistão, com o objectivo de pacificar o país.

Na realidade, foram as tropas americanas que inicialmente tiveram praticamente todo o trabalho, apoiando a Aliança do Norte e colocando tropas no terreno que apoiaram aquela aliança e permitindo a colocação no poder em Kabul de um governo pró-ocidental.

Posteriormente, quando a situação parecia pacificada, outros países europeus começaram a enviar mais tropas para o Afeganistão, que aparecia como um problema de resolução a longo prazo, mas que não apresentaria problemas de maior no futuro.

No entanto, parece que as previsões não se concretizaram, e a situação não só não melhorou, como piora a olhos vistos.

Nas últimas semanas o numero de vitimas dos combates com forças Talibãs, aumentou consideravelmente e as tropas de alguns dos países da NATO encontraram-se mesmo em algumas situações sob cerco dos terroristas, embora a clara superioridade técnica das forças ocidentais acabasse por se sobrepor.

Mas há um outro problema neste momento no Afeganistão.

Dos vários países que se encontram no terreno, apenas quatro deles estão na disposição de enviar tropas para zonas de combate. Além dos britânicos, dos canadianos dos holandeses e dos americanos, os restantes países estão e continuam a estar absolutamente relutantes em envolver as suas forças em operações e ataques militares, que são considerados necessários se houver alguma esperança de desalojar os Talibã dos seus ninhos em montanhas e zonas fortificadas.

No inicio desta semana, os comandos da NATO no Afeganistão, pediram mais 2000 homens com os quais pretendiam completar os efectivos, mas essas tropas seriam tropas combatentes.

O resultado, foi que ninguém se mostrou na disposição de enviar reforços para um cenário onde o numero de combatentes islâmicos tem vindo a aumentar exponencialmente. Os países com mais capacidade para cooperar, a Itália e a França, escudaram-se no seu envolvimento no Líbano e os restantes países por uma ou outra razão, não consideraram oportuno ou possível o envio de tropas.

Os alemães recusaram-se a transferir tropas desde as regiões relativamente pacíficas do norte, para o sul onde predominam os afegãos de etnia Pastu.
Sem reforços, as tropas presentemente no território, podem até continuas as suas operações, mas as suas possibilidades de sucesso serão cada vez menores. Os países que suportam o grosso dos combates, mais tarde ou mais cedo vão começar a perguntar porque devem ser eles a fazer o trabalho pesado, enquanto os outros se limitam a enviar forças para fazer o patrulhamento.

Se as opiniões públicas da Europa não entenderem que pode ser a sua segurança física, nos seus próprios lares a ser colocada em risco se o Afeganistão for abandonado à sua sorte, o futuro é inevitável. Mais uma período de convulsões sociais e guerras de guerrilha num país que tem de um lado o Irão que pretende ser nuclear e do outro o Paquistão que já o é e que corre o risco de em qualquer movimentação golpista, ver o controlo do país cair nas mãos dos fundamentalistas islâmicos.

Presentemente encontra-se no Afeganistão um pouco mais de 20.000 militares da NATO e 80% deles pertencem a sete países:

5400 britânicos
2700 alemães
2000 canadianos
2000 holandeses
1600 italianos
1300 americanos
1000 franceses

Recentemente, o governo da Polónia avançou com a oferta de mais 1000 militares, mas ainda não se sabe se essas tropas vão ser empregues em combates directos com o movimento Talibã.

A estes juntam-se cerca de 19.000 americanos, fora da estrutura da NATO.

Mensagem automática publicada por : Paulo Mendonça

quinta-feira, setembro 07, 2006


Brasil: na sombra da bananeira

Nascido como o maior país do continente americano, de tal dimensão que ofuscava os próprios Estados Unidos, então ainda limitados à região ocidental, e com os territórios da Califórnia do Texas e do Novo México nas mãos da recentemente criada nação Mexicana, ela própria mais populosa que o país que se viria a transformar em super-potência mundial, o Brasil dispôs durante algum tempo do título de mais poderosa nação do continente americano.

A marinha brasileira, chegou a ser considerada pelos americanos nesse tempo, como o maior potencial concorrente dos Estados Unidos no domínio dos mares do Atlântico ocidental.

Mas a História é a que é. Com uma tradição mercantilista muito vincada, os Estados Unidos cedo se transformaram na maior e na mais rica nação do continente, enquanto que o Brasil, fora da monarquia portuguesa pouco ou nada mudou. Foi mesmo mantida durante mais de meio século no poder, exatamente a mesma família reinante, a Casa de Bragança, embora dentro do ordenamento jurídico de uma monarquia constitucional.

A implantação da República, deveria se destinar a evitar essa manutenção do Status-Quo, mas pouco mudou, e a economia brasileira continuou sendo dependente da agricultura, mesmo com a imigração, especialmente a italiana, que criou pólos de desenvolvimento industrial em São Paulo. A famosa política do café com leite, representativa do controlo do país pela oligarquia dos barões do café de São Paulo junto com os criadores de gado de Minas Gerais é demonstrativa da continuação sem evolução.

Com tudo isto, a participação do Brasil na primeira guerra mundial, se fez já debaixo do guarda chuva protector da Royal Navy e a participação brasileira na segunda guerra mundial, foi patrocinada e claramente apoiada pelos Estados Unidos.

Tendo perdido qualquer possibilidade de liderança do continente, restou ao Brasil se apresentar como a principal nação da América do Sul, baseando sua liderança na dimensão de seu mercado interno e no crescimento de sua capacidade industrial, com um incremento muito grande, desde o fim da segunda guerra mundial.

A marinha do Brasil, comprou em segunda mão navios de guerra britânicos e americanos, como o porta-aviões Minas Gerais, como forma de afirmação no continente, sempre com a correspondente resposta da Argentina, desde sempre o principal rival efectivo do Brasil na região.

Nos anos 70, o Brasil fazia uma afirmação clara, com a compra de um pequeno numero de aviões Mirage-III, considerados na altura, os melhores aviões do mundo ocidental. Esses aviões, estavam destinados à defesa de Brasília, e foi mesmo construída uma base aérea para eles, a base de Anápolis. A marinha do Brasil, comprava pela primeira vez em muitos anos navios de guerra novos (as fragatas Niterói) e fabricava ou montava no país parte de seus componentes, enquanto no campo do exército, se faziam as primeiras experiências com a modernização dos pequenos tanques XM1, utilizados na segunda guerra mundial. Nos anos 80, a industria bélica brasileira atingiu um ponto de incontestável liderança, o que podia ser verificado pela quantidade de veículos militares vendidos pelo Brasil para todo o mundo, mas especialmente para os países da América Latina.

Porém, o fim da guerra fria, ditou o fim de muitos dos projetos militares brasileiros. Muitos deles, ficaram pelo caminho, sem dinheiro para desenvolvimento nem produção final. Ficaram pelo caminho grande parte dos projetos da ENGESA, da BERNARDINI, da MOTOPEÇAS e de muitas outras empresas que dependiam dos contratos de modernização das forças armadas para sobreviver, garantindo assim um alto grau de independência para a industria militar brasileira.

Hoje, mais de trinta anos depois da chegada dos flamantes Mirage-III, a defesa da capital do país, está mais dependente do fato de Brasilia estar localizada no centro geográfico do Brasil, que da capacidade de defesa aérea dos aviões que estão em Anápolis.

Ao longo de trinta anos, desde que o Brasil incorporou os Mirage-III, a FAB se limitou a modernizar parte dos Mirage e a repor perdas por acidentes, mas durante esse período de tempo, outros países do continente investiram fortemente em seus sistemas de defesa e especialmente em suas forças aéreas.

A FAB, para defender Brasilia, estava tão absolutamente segura de que nunca seria precisa, que deixou o tempo andar.

A Argentina, embora derrotada nas Malvinas em 1982, já dispunha de um numero de aeronaves modernas superior ao do Brasil, e só ficava abaixo, quando se contava com a fabricação pela Embraer do vetusto e ultrapassado jato Xavante, apenas adequado para treinamento, mesmo com muita tentativa de utiliza-lo como avião de ataque. Quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré.

O exército, findos os sonhos de modernizar a arma blindada, ao mesmo tempo que a Argentina conseguia avançar com a construção do seu tanque híbrido TAM, abandonou a possibilidade de ter um tanque brasileiro ao serviço, optando nos anos 90 pela compra de tanques americanos (M60) e europeus (Leopard-I) usados.

A marinha, reduziu a sua força de submarinos, e embora tenha sido pelo menos aparentemente a força mais aplicada na tentativa de evitar o atraso, foi obrigada a incorporar navios relativamente antigos, e de operação custosa, que rapidamente foram colocados fora de serviço. O porta-aviões São Paulo, tem quase quarenta anos, e embora seja de louvar a criação da aviação de asa fixa da MB, não parecem existir planos concretos para o futuro, além de utilizar o A-12 como veículo de treino para voos futuros, de que não há mais notícias.

No hino nacional, do país que hoje comemora mais um aniversário do «Grito do Ipiranga» se diz que o Brasil é um gigante pela própria natureza, mas parece que temos tanto a certeza do gigantismo, que ficamos encostados na sombra da bananeira, olhando pró tamanho e esquecendo da fábula da lebre e da tartaruga.

Nos últimos anos, temos assistido a alterações muito claras nos equilibrios estratégicos na América do sul. Assistimos a um rearmamento surpreendente do Chile, apoiado no forte crescimento do preço do cobre que financia parte das compras militares do país, e estamos assistindo a um movimento idêntico por parte da Venezuela, escorado no aumento dos preços do petróleo.

Nos dois casos, a vantagem tecnológica dos novos meios militares adquiridos por esses países coloca claramente em causa aquilo que era tido como certo, ou seja, a normal superioridade brasileira, que sempre foi o garante da inviolabilidade das fronteiras do país.

Estamos ficando para trás. Estamos ficando, e dormindo na sombra da bananeira, sonhando com o amanhã que não vai chegar enquanto o povão não entender que quem não assume o seu destino de frente, nunca vai chegar a lugar nenhum.

Mensagem automática publicada por : Luis Carlos Gomes