quinta-feira, novembro 30, 2006


A opção brasileira pelo submarino U-214

Os planos anunciados sobre a futura aquisição de novos submarinos para a Marinha do Brasil, além de futuramente darem à marinha brasileira acesso a novas tecnologias sobre o domínio de ligas metálicas mais modernas, incluíram também o fornecimento de um novo submarino, no caso o modelo U-214, desenhado na Alemanha, a partir da experiência tida com o U-209 (dos quais o Brasil já tem cinco unidades) com o submarino U-212, construído para a Alemanha e Itália.

A principal característica do submarino U-214,relativamente aos seus antecessores, é o sistema AIP, (Air Independent Propulsion) que permite ao submarino mover-se submerso durante pelo menos duas semanas sem ter necessidade de ligar os seus motores a Diesel para alimentar as suas baterias eléctricas.

Os submarinos Diesel-Electricos convencionais, devem emergir a períodos regulares, nunca superiores a três, no máximo quatro dias, para recarregar baterias e permitir continuar a viagem. Ao não utilizar os motores a Diesel (que produzem ruído) o submarinos equipados com AIP, tornam-se muito mais silenciosos, o que permite desta forma torna-los numa arma muito mais letal.

No entanto, pouco depois de ter sido conhecida a intenção de compra, foi também revelado que a Marinha do Brasil, não tinha intenção de adquirir aqueles submarinos com o sistema AIP, que é uma das mais importantes características daquela arma.

A opção por excluir o AIP não é absolutamente «virgem». A marinha de Israel, por exemplo, tem três submarinos da classe Dolphin, que são muito parecidos aos U-212 alemães, mas que não têm sistema AIP.

O curioso de analisar nas explicações dadas pela marinha brasileira, são os argumentos utilizados para justificar a não opção por aquele sistema.

A Marinha do Brasil, afirmou que considerava que os custos operacionais do U-214, seriam demasiado elevados, e que por isso a opção tinha sido por um submarino sem AIP.
[img3]
A argumentação, que sendo verdadeira (a operação do AIP, implica de facto mais estruturas e capacidade para reabastecer o navio com Hidrogénio, por exemplo) é no entanto estranha, quando se sabe que a marinha brasileira tem planos para o desenvolvimento e construção de um submarino movido a energia nuclear.
Acontece que por muito barata que fosse a operação de um submarino nuclear pelo Brasil, tal operação seria sempre inimaginavelmente mais cara que a operação de um sistema AIP de células de combustível.

A marinha brasileira, considerou como um factor de complexidade, a necessidade de dispor de oito camiões tanque, cheios de oxigénio e hidrogénio com um grande grau de pureza, que além do mais seria difícil de produzir, sendo também complicado o seu transporte.

Porém, a marinha brasileira não parece ter tido grande problema ao optar por construir um submarino nuclear, movido pelo combustível mais perigoso do mundo, tão perigoso que na maioria dos países é proibida a sua simples entrada em porto, por causa dos perigos inerentes.
Não parece que seja mais complicado, ou perigoso o transporte de Hidrogénio, que o transporte de Plutonio, pese naturalmente o facto de o combustível nuclear só ser reposto num intervalo de anos, o que não acontece com o Hidrogénio e o Oxigénio do sistema AIP de células de combustível.

Outro argumento utilizado pela marinha brasileira, foi o dos custos de navegação, dado o custo da milha navegada com o sistema AIP ser sete vezes mais caro que com o sistema convencional de Diesel.

No entanto, a comparação não faz exactamente sentido, porque o submarino U-214, tem a possibilidade (se essa for a opção táctica no momento) de operar exactamente como se fosse um submarino convencional, abrindo mão da utilização do sistema AIP, que só se utiliza quando as circunstâncias tácticas tornam necessária a sua utilização.

O sistema AIP não é como a energia nuclear, que se utiliza permanentemente. O U-214, também tem motores a Diesel, como outros submarinos da marinha brasileira, e o AIP só se utiliza quando o comandante decide passar a modo silencioso. O submarino pode ser utilizado em modo económico durante a maior parte da sua vida, utilizando o AIP, quando a segurança do submarino pode ser colocada em risco por um potencial inimigo. Neste caso, o AIP não é apenas um novo sistema de propulsão, ele é também uma arma de defesa passiva, e novas armas têm naturalmente os seus custos. Abrir mão delas, em nome da poupança pode ser negativo.

Dúvidas
As explicações dadas pela marinha brasileira para a não opção pelo sistema AIP, se bem que perfeitamente correctas e aceitáveis, podem no entanto ter outras razões, explicações e justificações.

Desde há décadas, que a marinha brasileira persegue o objectivo de construir um submarino movido a energia nuclear. Esse objectivo inicialmente visto como uma opção interessante e necessária, transformou-se com o tempo em símbolo de «status» e de capacidade tecnológica, mas cada vez menos uma vantagem táctica que pode ser aplicada em termos militares.

O projecto de submarino, tem sido difícil de manter e justificar, pois a posse de submarinos nucleares ou mesmo armas nucleares tem cada vez menos adeptos.

Segundo várias fontes, algumas delas citadas pela própria imprensa brasileira, o submarino U-214 com AIP, pelas suas características, terá provavelmente um único significado para a Marinha do Brasil.
O AIP matará definitivamente o projecto do submarino nuclear brasileiro, porque a utilização táctica do submarino nuclear (Um submarino nuclear custará de 2,5 a 4 vezes um submarino convencional) nas águas brasileiras é cada vez menos lógica em face dos custos de cada submarino nuclear e do gigantismo das águas territoriais e da ZEE brasileira, onde a arma submarina só será eficaz se houver um numero mínimo de submarinos disponíveis.

Ecologia e imagem internacional
Existem desvantagens que o submarino nuclear brasileiro trás para o país, e que tem que ver com a imagem internacional da energia nuclear adaptada às industrias militares, que está cada vez mais associada a regimes semi-ditatorias ou a ditaduras férreas, como o Paquistão ou a Coréia do Norte.

Os problemas com o controle da Amazônia, e as referências internacionais ao problema ou problemas da Amazônia, podem ser muito mais combatidos com o apoio e desenvolvimento brasileiro de energias alternativas e amigas do ambiente.
O Brasil é cada vez mais conhecido como um país que se preocupa mais com as questões ambientais, que promove e apóia as energias alternativas, e neste capítulo, o desenvolvimento no Brasil de uma industria para apoiar a frota de submarinos, acabaria trazendo para o Brasil o mais recente em matéria de células de combustível seria vital e da maior importância.

Este tipo de iniciativas, terá sempre muito mais impacte na opinião pública internacional, mostrando que não existem razões para qualquer gestão internacional da Amazônia, quando o governo e as autoridades brasileiras são as primeiras a promover as energias alternativas, renováveis, não poluentes.

A opção pelo U-214 sem AIP, poderá ter acontecido, porque ainda não houve a coragem suficiente, para decidir o que fazer ao projeto do submarino nuclear brasileiro.

No futuro, havendo essa possibilidade, o U-214 poderá ser reconvertido para a utilização do sistema AIP, que tem que reconhecer-se, ainda tem que desenvolver etapas para se tornar mais eficiente que o que é presentemente.

Paulo Mendonça + Luis Carlos Gomes

Mensagem automática publicada por : Paulo Mendonça

sexta-feira, novembro 10, 2006


Portugal: Notas sobre a entrevista do Ministro da Defesa

Em entrevista que deu ao programa televisivo «Diga lá excelência» do canal 2 da televisão pública, o Ministro da Defesa, Nuno Severiano Teixeira teceu várias considerações sobre as forças armadas, a sua modernização, reestruturação e rearmamento.

Forças portuguesas em cenários internacionais

Não deixa de ser interessante verificar que o ministro, considera que Portugal é um país com uma grande participação em forças internacionais, muito acima das nossas capacidades.

No entanto, os números parecem contradizer o ministro.
Em qualquer das recentes operações internacionais, a presença portuguesa é pouco significativa, e consegue estar abaixo do que seria de esperar de um país com o nosso tamanho, dimensão demográfica e capacidade económica.

No Líbano, por exemplo, para onde vão 140 militares portugueses, foram também enviados militares do país vizinho.
É evidente que Portugal sendo quatro vezes menor que a Espanha, e tendo ume economia cinco vezes mais pequena, não se pode comparar à Espanha, no entanto há uma comparação proporcional.

Ora se a Espanha é cinco vezes mais rica que Portugal, o normal seria que Portugal tivesse uma participação que fosse de 20% da participação espanhola. No entanto, a verdade é que a Espanha tem uma participação superior a 1200 homens, ou seja, quase nove vezes superior à Portuguesa.
Mantendo a proporcionalidade com um contingente espanhol, Portugal deveria ter enviado para o Líbano um contingente de 240 homens. No entanto, vamos enviar apenas 140.

Estes exemplos repetem-se em praticamente todos os cenários, e não quando começamos a fazer contas, as perguntas começam a aparecer e não parecem haver respostas. Não é verdade que Portugal tenha uma grande participação em operações internacionais, e a participação portuguesa nem sequer consegue ser proporcional à dimensão económica do país.

[img3]F-16 da Força Aérea

Os comentários feitos a propósito dos F-16 - ou da venda dos F-16 - mostraram-nos mais que a indecisão do ministro (que tem razões para não responder à pergunta) o completo desconhecimento por parte das senhoras bem vestidas e bem educadas que faziam o papel de «perguntadeiras», e que dirigiam a emissão.

Perguntado sobre em que fase estava a venda dos F-16, o ministro evidentemente disse que a situação não estava a ser estudada, e com toda a razão.

Nuno Severiano Teixeira não pode ter o caso em estudo, pela simples razão de que Portugal não tem F-16 para vender e não se pode vender o que não se tem nem se sabe quando se vai ter.

As senhoras perguntadeiras, certamente bem intencionadas, fizeram mesmo referência aos aviões que «comprámos» desconhecendo que os aviões que estão encaixotados não foram comprados, mas sim oferecidos pelos Estados Unidos, e que como aqueles que Portugal tem, há centenas nos Estados Unidos para serem entregues se houver interessados que possam ter uma autorização do congresso americano.

[img2]Submarinos e Navio de Apoio Logístico

Também é interessante analisar a opinião do ministro relativamente aos submarinos para a marinha e sobre o tão necessário Navio de Apoio Logístico, que permitiria a Portugal (por exemplo) enviar para o Líbano militares, sem ter que estar dependente do afretamento de navios, dispondo ainda se necessário de um navio equipado com capacidade para evacuação sanitária e apoio médico.

O ministro afirmou que teria preferido que o Navio de Apoio Logístico fosse construído antes dos submarinos porque é mais urgentemente necessário.

Infelizmente, a forma como decorreu a entrevista, levou os espectadores a pensar que o ministro preferia comprar o Navio de Apoio Logístico (NavPol) em vez dos submarinos.

Até a imprensa escrita se fez eco disto, referindo que Nuno Severiano Teixeira desautorizou Paulo Portas, o ministro que assinou o contrato para a compra dos submarinos.

Na verdade, cada submarino tem um custo equivalente a dois Navios de Apoio Logístico, pelo que os dois submarinos adquiridos custam aproximadamente o mesmo que quatro NavPol.

Portanto, o que o ministro disse, só pode ser interpretado como uma afirmação de que o NavPol deveria ser construído em primeiro lugar, e só depois se deveria dar inicio ao processo dos submarinos. No entanto, a ligação entre o projecto do NavPol e o contrato para o fornecimento dos submarinos, acabou por condicionar a ordem destas aquisições.

Ficaram também de fora, questões como a modernização do exército, as falhas conhecidas em termos de reservas de munições, ou o atraso do programa MLU.

No entanto, compreende-se que, com uma opinião pública desmoralizada e condicionada por emissoras de televisão que não cumprem a sua função, e tentam denegrir a imagem de Portugal perante os portugueses, a justificação da necessidade de manter umas forças armadas dignas seja difícil.

Mensagem automática publicada por : Paulo Mendonça